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terça-feira, 31 de março de 2009

Sermão: Um compromisso com o memorial


Texto (Josué 4:1-7)


Pr. José Carlos Teodoro Junior

“Tendo, pois, todo o povo passado o Jordão, falou o Senhor a Josué dizendo: Tomai do povo doze homens, um de cada tribo, e ordenai-lhes, dizendo: Daqui do meio do Jordão, do lugar onde, parados, pousaram os sacerdotes os pés, tomai doze pedras; e levai-as convosco e depositai-as no alojamento em que haveis de passar esta noite. Chamou, pois, Josué os doze homens que escolhera dos filhos de Israel, um de cada tribo, e disse-lhes: Passai adiante da Arca do Senhor, vosso Deus, ao meio do Jordão; e cada um levante sobre o ombro uma pedra, segundo o número das tribos dos filhos de Israel, para que isto seja por sinal entre vós; e, quando vossos filhos, no futuro, perguntarem, dizendo: Que vos significam estas pedras?, então, lhes direis que as águas do Jordão foram cortadas diante da arca da Aliança do Senhor; em passando ela, foram às águas do Jordão cortadas. Estas pedras serão, para sempre, por memorial aos filhos de Israel.” (Js 4:1-7)

Introdução

O PEIXE é considerado um símbolo cristão, a palavra Peixe em grego significa ICHTHUS, que tem por acrônimo a frase “Jesus Cristo Filho de Deus Salvador”. Os primeiros cristãos usavam esse símbolo, desenhavam arcos que se cruzavam, para descobrirem se havia algum cristão por perto no período de perseguição. Hoje a figura do peixe além de ser um símbolo cristão, é também um memorial da nossa fé. [1]

O texto de Josué (4.1-7), retrata um marco importante para o povo de Israel. A travessia do Jordão além de concretizar uma promessa de Deus, realiza um milagre ao povo, mostrando que Javé nunca os abandonou, nunca os deixou sozinhos sem cumprir com a sua palavra. Esse texto está inserido no sistema tribalista. Datado no período provável do início do Décimo Quarto Século, por volta de 1.400 a 1375 a. C. Essa perícope também mostra a ordem de Javé para a construção de uma estela (coluna de pedras) para memorial (em hebraico “zeker”[2] significa memória, lembrança) do povo.[3]

Memorial de Deus: Qual o compromisso cristão? O primeiro compromisso que o memorial representa para o cristão se relaciona com a ...

PALAVRA DE DEUS

Ao passar pelo Jordão, e ainda mais, ao entrar em uma terra desconhecida, o povo estava completamente perdido, sem saber o que iria acontecer, a única certeza era que Josué e a Arca da Aliança (sinal da presença de Deus) estava com eles. Josué talvez preocupado, também tinha essa certeza da presença de Deus, mais ainda, encontrava-se em uma responsabilidade enorme que muitas vezes o deixava aflito. Mas depois que o povo atravessou o Jordão, imediatamente Deus chamou Josué, e através da sua palavra instruiu a esse líder tudo o que deveria ser feito.

As pessoas também passam por aflições e preocupações em uma terra estranha a nossa sociedade; mas a maioria delas, procuram solucionar seus problemas sem reconhecer ou ouvir a Palavra de Deus. Muitas vezes, a maioria não ouvem nem a voz da sua razão. Por isso não encontram conforto, nem paz e muito menos segurança.

Sempre iremos encontrar uma terra nova que causa insegurança, o que precisamos é reconhecer o compromisso da palavra de Deus em nossa vida. Pois a palavra de Deus é o próprio Cristo que redimiu o pecado do mundo e que nos liberta para uma nova experiência.

Ao cultivarmos essa experiência da palavra de Deus não podemos deixar de lado o nosso segundo compromisso com a ...

OBRA DE DEUS

Após receber instrução, Josué encontrava-se seguro e motivado com a obra que iria ser feita. Ele imediatamente convoca os doze homens e os instrui a carregarem as pedras e a edificarem uma coluna em Memória ao que Deus havia feito. Josué estava mais do que nunca executando a obra de Deus. Sua maior preocupação agora não era com as incertezas ou suas próprias preocupações, mas com a tarefa e a missão a ser feita por ele e pelo povo a Deus.

“...O que damos maior importância é o que fazemos primeiro...”, Disse o prof. Ronaldo Sathler em uma de suas aulas de psicologia e religião. Sempre damos maior importância aos nossos próprios afazeres. Nunca nos preocupamos com nosso próximo ou com a obra que Deus propôs para aquele exato momento. A maioria das pessoas não se preocupam com a Missão de Deus, ou a valorização do próximo, apenas vivem em uma sociedade individualista dando maiores valores aos seus bens e ao que exigem de Deus.

Deus nos pede, compromisso com a sua Obra, Assim como Josué devemos dar maior atenção. Precisamos através da palavra de Deus apagar nossa ansiedade e preocupações, mas adquirir ferramentas para executarmos a obra que Deus nos deixou como cristãos. Esta obra não é só de uns(as), mas de todos(as). Se ela está em nosso coração é por que Jesus nos despertou para executá-las.

Mesmo que a revelação de Deus venha por intermédio da palavra, e que ela transforme nosso coração em obras de Deus, não podemos deixar de lado o compromisso com as...

CRIANÇAS DE DEUS

Toda a obra executada por Josué era para construir um memorial para que as crianças aprendessem sobre todos os milagres que Deus havia operado para o povo desde a saída do Egito até as águas do Rio Jordão. Isso demonstrava a caminhada de Deus com todo o povo, e também com a passagem da morte (escravidão) para a nova vida (liberdade), até aquele devido momento.

Hoje nem pensamos mais em nossas crianças, estamos vendo-as nas ruas jogadas ao alento, e muitas vezes nem as olhamos. Quando nos pedem uma esmola, tentamos desviar nosso olhar e talvez até atravessássemos a rua para não passar por perto. Estamos desprezando, violentando e maltratando nossas crianças, que em vez de ser o centro para o ensino do amor e da palavra de Deus, estão sendo pisoteadas sem amor e carinho. Quantas crianças sem pai ou mãe, quantas nas ruas passando fome mendigando pão. Quantas crianças perdidas nas ruas sem dignidade, escola e educação. Ensine a criança no caminho que ela deva andar, mas nós estamos distanciando nossas crianças de Deus.

Deus olha por elas e nos pede para voltarmos ao nosso compromisso com as crianças, para que possamos atendê-las e ajudá-las em suas fragilidades. O nosso Deus valoriza as crianças, Jesus valoriza as crianças, elas são símbolo da inocência e do amor de Deus. Por isso é preciso ensiná-las o caminho que devem andar. É Preciso ensinar a vida com Deus, o amor de Jesus por todas as crianças, para que nosso Deus ao qual tanto amamos não venha ser esquecido sobre a Terra. Nosso Deus é vivo e deseja que nossas crianças reconheçam isso. Por isso é preciso do esforço da comunidade cristã para olhar as crianças do nosso país.

Conclusão

Que o peixe cristão, seja um memorial de Deus para suas vidas, que ele venha a ser um compromisso real e verdadeiro com Deus e com o seu povo, que a figura do peixe marque em nossos corações o compromisso com o pedido de Deus em praticarmos a Sua palavra. Assim a obra de Deus será com muito mais amor e eficiência. Para que as crianças de Deus jamais saiam dos vossos corações. Deus abençoe!



[2] SIQUEIRA, Tércio Machado, “Tirando o pó das palavras: História e Teologia de palavras e expressões bíblicas”, Editora Cedro, São Paulo, 2005 Pg. 154.

[3] BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada de Estudo: Antigo e Novo Testamento. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Atualizada no Brasil. 2a. Editora. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

quinta-feira, 26 de março de 2009

DIVINA PROVIDÊNCIA: UMA REFLEXÃO TEOLÓGICA NA PERSPECTIVA WESLEYANA.

Autor: Pr. José Carlos Teodoro Junior


Quando falamos de providência divina, logo temos em nossa mente respostas ou atitudes que Deus exerce sobre cada ser humano. Antes disso devemos entender que a providência divina está fixada dentro de uma característica que envolve Deus num compromisso com a sua criação. Esse compromisso se da a partir do momento em que Deus criou todas as coisas e as ama ao ponto Dele sustentá-las.

Com base nisto, João Wesley fala em seu sermão sobre a divina providência o seguinte: “... todas as coisas, todos os eventos neste mundo estão sob a direção de Deus...[1]. De acordo com os ditos de Wesley podemos dizer que tudo o que acontece no mundo ou em relação a ele está ligado ao sustento de Deus e a sua forma de governá-lo. Este governar não se compara a um governador que apenas manda seus deputados fazerem as coisas e ele fica de braços cruzados esperando as obras realizarem, mas um verdadeiro líder que conhece a fragilidade de seus liderados e também a necessidade que cada um tem diante das dificuldades e que se coloca no lugar de cada homem e mulher para ajudá-los a se sustentarem.

De acordo com este governo João Wesley ainda expõe:

“...E não é de se surpreender porque somente o próprio Deus pode dar um relato claro, consistente, perfeito, de sua maneira de governar o mundo...”[2]

Se foi Ele quem criou todo este sistema que se chama mundo e universo, porque Ele não seria a única forma de sustentá-lo? De acordo com Wesley, só Deus pode apresentar um relatório claro e preciso do que os seres humanos necessitam de uma extremidade a outra do planeta Terra. Ele é o único que conhece todas as dimensões e medidas desse firmamento global. Com base nisto lembro-me de uma passagem da Bíblia no livro de Jó (capítulos 38 e 39), onde Deus perguntava a Jó se tinha conhecimento para responder sobre as medidas do mundo e de toda a criação que Deus fizera. De acordo com os textos do livro de Jó, acho que nenhum ser humano pode dizer a Deus as medidas exatas e precisas do mundo e qual é a necessidade que cada ser racional ou irracional precisa na criação, só Deus pode solucionar esses problemas, pois foi ele o construtor de tudo. Por isso concordo com Wesley ao dizer que Deus é a única forma perfeita de governar o mundo.

Com relação à providência Wesley trabalha em seu sermão a passagem do evangelho de Lucas 12.7, que diz: “... até os cabelos de sua cabeça estão contados...” e ainda ele explica:

“...trata-se de uma expressão proverbial, implicando que nada é tão pequeno ou insignificante, às vistas dos homens, de maneira a não ser um objeto do cuidado e providência de Deus, diante de quem nada é pequeno quando diz respeito à felicidade de algumas de suas criaturas...” [3]

João Wesley está falando que por menor que seja a necessidade das criaturas, Deus estará sempre cuidando e preservando aquilo que fez. Quando pensamos assim como Wesley, analisamos que a preocupação de Deus com sua criação é muito mais do que apenas providenciar os suprimentos necessários, antes disso, é manifestar um sinal de amor e carinho a nossa existência.

Agora nós humanos, homens e mulheres, muitas vezes pensamos que Deus não está observando uma dificuldade aqui ou outra ali, achamos que se as nossas necessidades não estão sendo supridas hoje é porque Deus não se preocupa conosco. Como estamos enganados com esta forma de pensar! Vejamos o que João Wesley fala em seu sermão:

“...o eterno e todo-poderoso estabeleceu todas as coisas em ordem, as plantas, os peixes e os pássaros, as bestas e os répteis, segundo suas espécies e Ele conhece todas as coisas que fez, e que se os olhos do homem discernem as coisas a uma pequena distância, o da águia a uma distância maior, como o olho de Deus não verá tudo, através de todas as extensão da criação? Nada está distante Dele...”[4]

Veja como é rica esta mensagem de Wesley, se nós observamos algumas coisas que nos faltam ainda mais sendo pequenos; quanto mais Deus olhará para nossas necessidades. Com estas frases de João Wesley, lembrei-me de Jesus ao olhar para os lírios dos campos e as aves do céu e dizer que Deus as tem sustentado, quanto mais a nós Ele nos sustentará, me sinto tão amado por Deus que posso observar o carinho e o cuidado com sua criação e em especial com a humanidade.

Agora essa preocupação com a criação não surgiu do nada, a providência de Deus também não apareceu por acaso. O livro Viver a Graça de Deus, da uma contribuição muito importante a este sentido:

“...A convicção de que Deus cuida de sua criação não surgiu de uma necessidade teorética, mas da experiência da proximidade de Deus, que a tudo cuida e tudo lhe dá, mesmo no meio de angústias e preocupações...”[5]

De acordo com essas palavras podemos analisar que a provisão de Deus não nasceu de materiais ou reflexões teóricos, mas de experiências de vida com este Deus. Podemos saborear a providência, a partir do momento que chagarmos a um relacionamento mais íntimo com Ele. Agora podemos perguntar, e as pessoas que não conhecem esse Deus, elas também podem experimentar dessas experiências? De certa forma posso dizer que sim, creio que a provisão de Deus está se manifestando de alguma forma para as pessoas em algum lugar do mundo. Pois assim como Wesley disse que todas as coisas estão na direção de Deus, acredito que tudo o que existe no mundo esteja em suas mãos. A provisão de Deus sempre se revela a alguém de alguma forma, seja ela algo específico como uma cura, um livramento de algum acidente, como algo mais amplo, como a chuva para a colheita, como o sol para o nosso dia a dia e a lua para nossa noite.

Para concluir, não vamos nos enganar achando que Deus nunca olha ou providencia algo para nós, pois isso seria uma negação daquilo que estamos vendo e presenciando através da criação de Deus, como a natureza o sol, a lua, nosso alimento. Estes elementos naturais e importantes para nós, por si próprios já são uma providência de Deus. O que devemos fazer é sempre acreditarmos que Deus nos abençoa e continuará a fazê-lo, pois se ele negasse a isto, não teria entregado seu filho à cruz do qual por intermédio de Jesus Cristo experimentamos a maior providência do mundo, a entrada para o Reino de Deus.

Bibliografia:

WESLEY, João. Sermão 67 Sobre a Divina Providência: Até os cabelos da sua cabeça estão contados (Lc. 12:7). CD Sermões de João Wesley.

KLAIBER, Walter e MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça de Deus: Um compêndio de Teologia Wesleyana. 2º edição. São Bernardo do Campo, Editeo, 2006. Pg. 520.



[1] WESLEY, João. Sermão 67 Sobre a Divina Providencia: Até os cabelos da sua cabeça estão contados (Lc. 12:7). Ponto 01. CD Sermões de João Wesley.

[2] WESLEY, João. 04. CD Sermões de João Wesley.

[3] WESLEY, João. Ponto 06. CD Sermões de João Wesley.

[4] WESLEY, João. Ponto 09. CD Sermões de João Wesley.

[5] KLAIBER, Walter e MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça de Deus: Um compendio de Teologia Wesleyana. 2º edição. São Bernardo do Campo, Editeo, 2006. Pg. 105.